domingo, 12 de outubro de 2008

Prólogo

Bia Lacerda estava sentada no restaurante próximo ao Primeira Página. Almoçava com o namorado e aproveitava para ler o jornal concorrente. Acordara muito cedo e ainda não tinha comido nada. O namorado, alguém sem o espírito de curiosidade de um jornalista e que se queixava muito dos horários de Bia, apenas almoçava.
- Beatriz — disse o rapaz. Ele a chamava Beatriz. — Não esqueça que hoje é o nosso terceiro aniversário de namoro. Nós combinamos de comemorar hoje à noite.
- Eu sei, querido — respondeu automaticamente.
- É que eu acho que nós estamos nos distanciando nas últimas semanas, desde que você começou a trabalhar com este tal de Santa Cecília.
- Eu gosto de trabalhar com ele tanto quanto você gosta de eu ser jornalista — interrompeu Bia.
- Beatriz, talvez esta seja a hora de a gente pensar em uma nova maneira de fazer as coisas. Talvez devamos morar juntos, ou pensar em ter filhos... A verdade é que…

A repórter deixou-se perder da fala do namorado. Uma televisão ligada do outro lado do salão lhe pareceu muito mais interessante naquele momento. Era um destes programas “mundo cão”, que explora a violência e a miséria. Instintivamente, ela levantou.
- Aonde você vai, Beatriz?, indagava confuso o namorado.

Bia foi até o balcão do bar, onde sentou-se para ouvir o que o jornalista dizia. “A atriz Rebeca Dias foi encontrada morta em seu apartamento, na Barra da Tijuca. Por volta de oito da manhã, a empregada chegou à residência e encontrou Rebeca caída no chão da sala. De acordo com a polícia, a atriz não apresentava marcas de agressão e os peritos descartaram a possibilidade de overdose. A porta não tinha sinais de arrombamento e os vizinhos não ouviram qualquer discussão na noite passada. Para especialistas, a hipótese mais provável é morte por causas naturais.”

A repórter saiu correndo do restaurante, com seu namorado logo atrás.
- Aonde você vai?
- Eu preciso trabalhar.
- E o nosso aniversário, Beatriz?
- Acho que vamos ter que desmarcar. Fica para o ano que vem.

Bia correu para dentro da sede do jornal. No elevador, seu celular tocou.
- Oi, Lincoln. É, eu vi. Já estou chegando.

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